15.1.10

A Casa ao Lado

2005


Há coisas muito singelas, tempos singulares, que não voltam mais, mas parecem nunca sair da nossa memória... Apenas há mudanças de sorrisos, de lágrimas, de cores, quando revivemos tais momentos, revolvendo as nossas lembranças. Uma das minhas mais doces memórias diz respeito à casa dos meus avós, a casa ao lado. E dia desses, encontrei um texto que fiz, há 5 anos atrás, a respeito dessas minhas lembranças. Antes que eu o perca de vista...
A casa dos meus avós é a minha infância e a minha juventude, que ainda vivo, coexistindo na sala, repleta de estantes que abrigam "Romeu e Julieta", "Senhora", "Dom Casmurro", "Meu pé de laranja-lima", entre outros.
Ainda posso reviver as espionagens secretas que eu fazia debaixo da mesa do jantar, atrás do armário do quarto do casal.
Cresci com as rosas, as margaridas, os copos-de-leite e as azaléias do jardim que meu avô (voinho!) cuida com carinho todas as manhãs.
Ainda me vejo brincando escondida no escritório de vovó, digitando minhas histórias de faz-de-conta na velha máquina de escrever, que funciona até hoje, tão bem quanto as minhas lembranças!
E as quintas-feiras continuam as mesmas: vovô vai para a fazenda, trazendo domingos com cheiros e sabores de bananas, limões e requeijões.
O grande terço de madeira que enfeita a parede do quarto de vovó ainda me lembra as orações à Virgem Maria e aos anjos-da-guarda, que ela me ensinou.
Vovô ainda me dá um real sempre que o abordo com aquela cara de moleca dengosa.
Durante as tardes dos meus dias, eu recorro à cada dos meus avós para ler meu horóscopo, na 2ª página do caderno "Em Cultura", do jornal "Estado de Minas".
Quando tem prova, estudo na casa deles, pois é lá que eu mergulho na História , na Física e na Literatura (que eu amo!), auxiliada pelo silêncio das doces lembranças e motivada pelo desejo de ainda viver tempos tão saborosos na casa ao lado.