16.2.10

SÓ SE VIVE POR UM TRIZ...

Só se vive por um triz. “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia” (W. Shakespeare). Eu realmente gostaria de te dizer palavras reconfortantes, mas diante da morte, que é a única certeza que se tem na vida, embora seja ela também um dos maiores mistérios que nós temos em vida, diante dela, eu não me sinto capaz de dizer nada. Como posso eu ousar falar de algo que ninguém sabe explicar, algo que ultrapassa meu entendimento. “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento.” (Clarice Lispector).

Que poderei dizer-te eu? Que Deus sabe o que faz? Que havia um propósito maior? Não. Eu estaria mentindo para você. Eu estaria mentindo para mim mesma, porque tampouco eu creio nisso. Mas também não sei explicar. A morte dói. Isso eu sei. Sei porque acabo de morrer com sua dor... . Já morri simbolicamente muitas vezes em vida, e ainda assim, estou viva. Será a morte do corpo e da alma algo como uma passagem, um instante, uma dor imensa que depois passa e só fica a vida? Será que há, de fato, uma vida após a morte? Não religiosamente falando, mas uma vida que ultrapassa, também, o nosso entendimento, já que não cabe mais nesse mundo. Esse pensamento é reconfortante... pensar que, mesmo depois de morta pra nós e pra ela mesma, estará caminhando rumo a uma nova vida. Mas sei que nossa dor não passará com esse pensamento, ainda assim, não passará. Será uma dor intensa, e depois potencial, se desgastando com o passar do tempo, como se ela se confundisse com o tique-taque do relógio, e se dissipasse, ou se transformasse em algo inexplicável que emana de nossos olhos, de nossos olhares aflitos e observadores. De olhares que guardam um mundo inteiro por trás, uma história, uma cruz que não cabe a mais ninguém levar.

Na vida acontecem coisas realmente inexplicáveis. Coisas boas. Coisas ruins. Coisas inacreditáveis. E podemos passar toda a nossa existência tentando compreender, mas nunca chegaremos a uma resposta. E vamos deixar a vida passar por nós sem tê-la vivido. Há coisas que não são passíveis de fazer sentido. Certas coisas, meu amigo, só existem para serem sentidas, sem nenhuma pretensão de compreensão.