2.12.19

Insignificante

Tenho pensado tão pouco no meu caminho que tenho me ignorado na caminhada.
Tenho sido gigante nos meus sonhos, sem perceber-me enquanto insignificante grão de areia.
Era tão fácil encontrar-me e tão desesperador estar perdida. A experiência de (re)encontro era sempre uma epifania, um emaranhado de emoções que me preenchia da certeza de que ser-me complexa e plural era meu estado de paz, de incompletude aceita e abraçada.
Hoje não sei da caminhada. Encontrei-me num estado de letargia sem fim, de inércia perante a vida, que segue em compasso acelerado, enquanto permaneço em pausa. Quero ser capaz do meu antigo contentamento pelo não me entender, porque hoje simplesmente não me debruço sobre minha incompletude de existência.
Tenho me saciado com uma felicidade clandestina e passageira, que responde a demandas que não me pertencem, quando estar feliz deveria me consumir por dentro, acender a chama sob a luz das estrelas, e não sob a luz dos olhares alheios. Quero ter a compreensão da vastidão da minha vida, e não a restrição ao meu ego inchado e limitado a ostentar o que tenho ou conquistei, porque daqui nada se leva, e porque eu sou além e independente do que você me vê.

30.7.14

Desatando laços

Eu não posso fingir que está tudo bem. Claro que não está. Mas eu tenho que dizer muitas vezes em voz alta, para quem queira saber, que está tudo bem, para que eu possa internalizar as minhas palavras e acreditar nelas.

Passei a vida me decepcionando com as pessoas. Passei a vida abrindo a porta para as pessoas saírem da minha vida, depois de deixarem muitas janelas quebradas na minha alma. Muitos laços foram desatados. E é sempre difícil perder as pessoas que nós enlaçamos ao longo da estrada. Mas desatar os laços de sangue, que já nasceram presos e reforçados, é muito mais difícil. Os nós da minha alma vão ficar soltos à mercê do tempo.

18.10.13

Dante Milano....



Dante Milano (1889-1991) foi um poeta carioca pouco conhecido que deixou coisas maravilhosas sem o alcance que mereciam ter.

"Tanto rumor de falsa glória,Só o silêncio é musical. Só o silêncio,A grave solidão individual,O exílio em si mesmo,O sonho que não está em parte alguma.De tão lúcido, sinto-me irreal".

MÚSICA SURDA
Como num louco mar, tudo naufraga.
A luz do mundo é como a de um farol
Na névoa. E a vida assim é coisa vaga.

O tempo se desfaz em cinza fria,
E da ampulheta milenar do sol
Escorre em poeira a luz de mais um dia.

Cego, surdo, mortal encantamento.
A luz do mundo é como a de um farol...
Oh, paisagem do imenso esquecimento.

20.6.13

Trabalhando a simplicidade

E tantas vezes já pedi desculpas por ser quem eu era. E hoje, me arrependo. E hoje, sei que não se deve pedir desculpas por ser, ainda quando se é nos defeitos. Sabe? Os defeitos me incomodam também, desconfio que até mais. E eu sou obrigada a acordar e dar bom dia a eles, porque fazem parte de mim e vou conviver com os mesmos até o fim dos meus dias, ainda que eu os reprima com um sorriso... mas eu mesma nunca fui de muitos sorrisos. Só agora estou aprendendo a sorrir nas fotos e achar que, às vezes, até fica bonito.

Sempre fui muito complexa. Nasci complexa. Até a gravidez da minha mãe e o parto subsequente foram regados da mais alta complexidade. Estou trabalhando a simplicidade. Enganam-se os que acham que é fácil ser simples. Para mim, ser complexo é que é fácil. Sorrir é coisa simples. É coisa fácil. Por isso, meus sorrisos ainda não encontraram o timing, porque só em momentos de muita lucidez e aperfeiçoamento é que atinjo o ápice da simplicidade.


Fernanda Pettersen de Lucena

19.6.13

Caio Fernando Abreu



"Coloque sua música favorita para tocar, respire fundo e faça o que de melhor sabe fazer: ser você."

"Quando eu escrevo eu consigo ordenar tudo aquilo que eu penso. Agora, quando eu falo ou quando eu sou, simplesmente não consigo ordenar nada. Eu sou da maneira mais caótica possível".

"Na minha memória - tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos".

Caio Fernando Abreu.

15.4.13

Simplicidade


"No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o voo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu voo pela manhã. Já observaram o voo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só." (Rubem Alves)

3.11.12

Ânsia de perplexidade

"Sinto-me tão perdida. Vivo de um segredo que se irradia em raios luminosos que me ofuscariam se eu não os cobrisse com um manto pesado de falsas certezas. Que o Deus me ajude: estou sem guia e é de novo escuro." (Clarice Lispector)