18.6.11

Vírgulas






Eu sempre encarei as minhas dores porque minha filosofia de vida e de geração me diziam que só assim eu amaria a vida e só assim eu me imporia perante a vida e perante mim mesma. E hoje não reconheço as minhas vírgulas no espelho, não reconheço meus olhos que não sabem chorar e meu coração que não se desespera diante da face desnuda do próprio desespero. Mas descobri que o hoje é só uma imagem, e meu reflexo é só uma vírgula, e eu, pela primeira vez, me dei ao luxo da covardia.
Fernanda Pettersen de Lucena

28.1.11

Encantados



Meu amor. Não tenho brandura nem candura suficientes para filosofar sobre o que seja amar. Mas tenho vida, ar nos pulmões e sonhos no “céu da cabeça”* para tentar compreender o que os próprios poetas não compreendem. O amor. O Amor.
Estive pensando que o amor não sobrevive sem o dia-a-dia e vice-versa. É preciso passar pela experiência da convivência para saber que realmente se ama, porque é o dia-a-dia, o lado a lado que nos revela o outro, seus limites e dimensões. Mas aí pensei: amor sem dia-a-dia é saudade. E o fato de duas pessoas não viverem juntas por alguma obra do destino ou das escolhas infelizes não equivale a dizer que elas não se amam. No entanto, juro que o amor e o dia-a-dia são cúmplices, comparsas, irmãos de fé e de sangue. Eu sinto, ainda que não saiba explicar o que não compreendo. Eu sinto e isso sempre me bastou.
Eu farejo os caminhos. Eu sigo os instintos da minha natureza selvagem, indomada. Foi assim que me impregnei da certeza de que o amor exige encantamento. Sem encantamento o amor sucumbe às dúvidas e incertezas do vir a ser. Encantemo-nos. Cantemo-nos. Cantemos. Amor.
(Para Matheus)
* Da música "Céu da cabeça", do cantor e compositor Carlos Lucena.

Fernanda Pettersen de Lucena