30.12.09

"About love, overcoming all obstacles..."


Há limite para os "sacrifícios" que fazemos "por amor"? Ou talvez a pergunta certa seja: o amor exige de nós "sacrifícios"? Para a primeira pergunta, a razão responde: SIM, há limite, a saber, nós mesmos. Ultrapassar esse limite é tornar-se uma "Joana D'arc" dos relacionamentos. Para a segunda pergunta, o bom-senso responde: NÃO, o amor não deveria exigir "sacrifícios", pois tal sentimento pressupõe que alguém te ame pelo que você é, carregando o "pacote" inteiro, por assim dizer, ou seja, as qualidades, mas também os defeitos, pois já dizia com sapiência Clarice Lispector: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro." Então, o que na verdade o amor exige, a propósito, como todo e qualquer relacionamento, é que se façam algumas cessões para que a boa convivência possa ser viável, afinal de contas, é óbvio que os indivíduos envolvidos têm suas peculiaridades, diferenças e manias que podem colidir. Portanto, deve haver um esforço de ambas as partes para que a vida a dois seja pacífica e agradável, sem desentendimentos ou desapontamentos.
Mas como diferenciar uma cessão de um "sacrifício"? Ah, a resposta a essa pergunta é aparentemente simples, mas essencialmente muito complexa, pois está no fato de que as cessões, em termos de relacionamentos amorosos, correspondem, entendo eu, a abrir mão de alguma coisa que não vá alterar a essência de nós mesmos, ou que vá manter nosso "eu mesmo" vivo. Já os "sacrifícios" equivalem a um suicídio. Sim, um suicídio de nossa essência ou de parte de nossa essência, creditando tal feito em prol de outrem. Diriam uns, que o suicida in casu é o famoso mártir. Mas eu realmente tenho minhas dúvidas a respeito. Quero dizer, em alguns casos, há uma certa tendência a "mendigar amor", vestindo de trapos as divergências que se têm com o parceiro, e fazendo pouco delas, quando, em verdade, deveriam ser debatidas pelo casal (a DR* básica) para o alcance de algum consenso. Em síntese, muitas vezes sacrificamos um ponto crucial da nossa composição enquanto indivíduos para agradar alguém, por falta mesmo de compreensão de nós mesmos, por não entendermos a suprema importância de ser quem somos, e por não abraçarmos o fato de que, numa relação, nossa solidão convive com outra solidão, em sua inteireza, em sua completude, não pela metade, porque solidão pela metade não é solidão, queda-se isenta de sentido... Assim como amar pela metade não é amar, pois a grandiosidade desse sentimento não permite que hajamos como seres mesquinhos: "Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa." (Fernando Pessoa).
* DR = Discutir o Relacionamento.

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