5.3.10

Cartas ao tempo. (1ª)



Um lugar qualquer, 05 de agosto de 2008.

Os princípios são tão difíceis e necessários quanto os fins, porque são ambos novos e desconhecidos e ambos exigem um esforço que muitas vezes nos é bastante penoso: para o fim, o esforço de desistir e aceitar, para os princípios, o esforço de ter coragem e se arriscar.
Hoje estou tendo coragem de me arriscar a escrever-te essas linhas, com a humildade de um coração deveras desenganado, enquanto vivencia este fim e tenta se fazer forte o suficiente para desistir de esperar por algo que, na verdade, resume-se a mim própria, porque os outros são a projeção dos meus desejos tantas vezes contidos e tantas vezes escancarados e desnudados perante a escuridão e o frio que embalam todas as pequenas mortes da minha vida. Sim, padeço hoje nas esperas e desilusões grávidas de mim...
Neste momento eu me deito nestas linhas e tento repousar em minhas palavras. Tento devorá-las para que possa acreditar nelas verdadeiramente, para que elas se impregnem em meu corpo e me façam ter a coragem e a certeza de que desistir é, de fato, a decisão mais difícil com que nos deparamos em nossas “pequenas-grandes” vidas.
Há uma calma se fazendo presente em meu semblante, outrora agitado e esperançoso; uma tristeza contida e potencial que me dá a capacidade que hoje manifesto de encarar um novo começo, de parir-me e nascer ao mesmo tempo para mim mesma. Há o reconhecimento de que devo reencontrar-me e sorrir para a companheira que me tem acompanhado em minha trajetória longínqua: a Solidão.

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