5.3.10

Cartas ao tempo. (7ª)


Um lugar qualquer, 15 de novembro de 2008.

Na verdade, nossa “solidão triste” não nos permite ver que há sim, alguma coisa. Algo maravilhoso que sempre há por trás das pessoas que se reconhecem sós e que encontram beleza na solidão. Que se permitem uma alegria e uma melancolia no mesmo ser.
Certa vez disseram-me que o momento em que nós mais evoluímos, é aquele em que acreditamos que não há nada, que "nada acontece" (En attendant Godot, Teatro do Absurdo), que a nossa vida parou enquanto tudo continua lá fora.
Mas vou lhe dizer. Há sempre um silêncio, uma solidão muito entregue a si mesma e uma potência que parece nunca ter fim para anteceder um movimento. Um movimento que não prevemos, que não esperamos. E você saberá que a solidão se eleva, sim, mas que ela te eleva também. “Minha força está na solidão. Não tenho medo das chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” (Clarice Lispector).
A escuridão sempre antecede o raiar de um novo dia.

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