5.3.10

Cartas ao tempo. (4ª)


Um lugar qualquer, 24 de agosto de 2008.

De fato somos constantemente colocados à beira de um abismo por mostrar quem realmente somos e o que realmente sentimos. Mas a verdade é que nem todos estão dispostos a sentir essa vertigem de quem parece estar prestes a cair, justamente porque a sociedade nos ensina a ser iguais e a satisfazer os desejos do sistema dominante. Somos enquadrados e homogeneizados e tornamo-nos meros fantoches reprodutores de emoções, de pensamentos, de crenças, de moda... Abandonamo-nos. E pergunto: qual o abismo maior? Cair em nós mesmos e para nós mesmos ou abandonar o que somos em prol da sobrevivência do sistema?
É muito fácil e cômodo aceitar as imposições da sociedade. É melhor não ter que ser ignorado nem desprezado por não ser igual. É difícil não ser tragado pela força violenta e dominadora da massa social. É difícil dizer não quando todos dizem sim. Mas de que vale a vida se vivida em uma prisão onde não há espaço pra crescer?
Certa vez li uma frase, cuja autoria desconheço, mas da qual nunca me esquecerei; dizia mais ou menos assim: nascemos todos diferentes e morremos cópia. Não quero ser uma cópia, não quero ser uma máquina reprodutora! Creio que quando Clarice Lispector disse que a maior necessidade do homem é tornar-se humano, ela estava coberta de razão e, convenhamos, ainda está coberta de razão e possivelmente, sempre estará. É urgente que tornemo-nos humanos, que tornemo-nos nós mesmos.
Vou cair sempre nesse abismo que me abandona a mim mesma. E vou estar feliz assim, porque o que vier, vai ser verdadeiro e eterno, não vai ser mero reflexo, mera reprodução.

Falling forever.

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