5.3.10

Cartas ao tempo. (6ª)


Um lugar qualquer, 29 de setembro de 2008.

De fato, a condição humana nos faz criar coisas inefáveis, mas também nos faz destruir e desprezar aquilo que não pode ser convertido em valor econômico. Infelizmente, habituamo-nos a dar excessivo valor à matéria, às coisas terrenas, que podem ser reconhecidas e comprovadas e apoiamo-nos em um Deus apenas para não deixarmos de acreditar que, apesar de estarmos tão centrados em nós mesmos, em nosso ego, ainda temos perdão... Para que possamos deitar nossas cabeças no travesseiro e dormir bem, enquanto 23, 3 milhões de pessoas no Brasil estão abaixo da linha da pobreza; ¼ da população mundial “vive” com US$ 1,25 ao dia... Sabe, meu coração quer explodir!
Não sei se o homem é bom por natureza e a sociedade o corrompe, conforme defendeu Rousseau. Para ser franca, creio que ninguém é bom, mas também não somos completamente maus. Penso que não somos completamente nada! Não enxergo o mundo e nem a nós mesmos de forma maniqueísta. Mas sabemos que o ser humano é movido por seus desejos. E sabemos, por experiência própria e alheia, que o 1° desejo que o move é individual. O problema, é que em meio a uma sociedade fortemente individualista, como a nossa, focamos única e exclusivamente nesse individualismo, esquecendo-nos do outro ou vendo-o apenas como objeto, não como sujeito e, portanto, como nosso semelhante!
É, usamos de várias máscaras para encobrir as mazelas da alma humana. Para falarmos de igualdade, liberdade, respeito e fé sem termos que nos olhar no espelho para ver o que realmente somos... Ou para não termos que encarar o que nos falta. Nossos conceitos de liberdade e igualdade são forjados, são inventados e impostos para que não nos perguntemos como é possível ser livre e igual na miséria.
Embora eu esteja com você, estamos sozinhos. No fim das contas, todos nos resumimos a nós mesmos. Sigamos sós, mas rezo para que a solidão de todos possa me acompanhar em um caminho que, mesmo que ainda esteja deserto, possa um dia ser povoado... Um caminho que leve à verdadeira e efetiva igualdade e à união entre todos os povos, entre toda a irmandade humana e cósmica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário